segunda-feira, 24 de setembro de 2012

pra sempre levarei comigo a sua dor, para o caso de um dia você a esquecer

minha solidão não me incomoda quando estou sozinha no meu sofá, olhando pra televisão desligada e contemplando minha imagem refletida. uma imagem que não me transmite derrotas ou vitórias, alegrias ou tristezas. uma imagem que apenas está ali, sendo refletida e tentando entender como eu cheguei até aqui e para onde vou a partir deste ponto.

minha solidão não me atrapalha ao andar sozinha na rua e observar os outros todos acompanhados. em grupos de amigos, em casais apaixonados, em famílias de comercial de margarina. eu vejo o outro acompanhado e entendo que aquilo é o suficiente para ele. entendo que aquilo foi o que ele buscou para o momento e entendo que isso, meu caminhar solitário pelas ruas e avenidas foi o que eu escolhi para mim. entendo também que não necessariamente o fato dele estar acompanhado faz dele melhor ou pior do que eu, que também estou acompanhada, porém da minha solidão.

minha solidão não me perturba nos almoços de família ou nas ceias comemorativas. não fica me cutucando enquanto eu estou contando minhas últimas aventuras para minha mãe, ou brincando com minhas sobrinhas, ou abraçando meus irmãos. as reuniões familiares já me fizeram me sentir mais só, mais abandonada, mais desesperada, mas hoje em dia, eu me sinto bem. por pior que estejam as coisas entre os entes, por mais que eu não consiga aceitar os defeitos dos meus pais ou dos meus irmãos, eu aceito que eles são uma parte de mim, e eu uma parte deles. e que o dia que essas partes não mais se reunirem ocasionalmente, eu me sentirei vazia.

minha solidão não me inquieta na presença dos amigos. eles me fazem rir, quando eu permito me abraçam, me escutam e me deixam escutá-los. eles me dão o direito de ser quem eu quiser, a farsa que eu vesti ou a realidade que eu escondo. e mesmo sabendo que tudo isso me mata aos poucos por dentro, eles me dão o tempo necessário para que eu confie. e por isso, quando estou com eles, minha solidão me deixa em paz.

ela só aparece na hora em que eu percebo. em que eu percebo a imagem refletida que não sabe onde quer chegar. na hora que percebo que os outros também estão tão sós quanto eu, mas que preferiram fugir. no momento em que eu me distancio da minha família, e fico achando que sem eles eu serei capaz. ela só me incomoda realmente na hora em que eu percebo que na verdade ninguém poderá me ajudar, além de mim mesma. e na hora em que eu quiser. na hora em que eu perceber que viver apenas com a solidão ao meu lado não é saudável, não é perfeito, não é o ideal.

nessas horas eu abraço a solidão. aí eu percebo o quanto ela se sente tão odiada quanto eu me sinto. e eu percebo também que ela pode ser muito confortável. que é necessária muitas vezes. mas eu a abraço, olho fundo nos olhos da solidão e a deixo entender também que isso não será para sempre. que uma hora eu vou ter que abandoná-la também. e dar o melhor de mim para conseguir seguir em frente sem ela.

por enquanto, sigamos de mãos dadas.

Um comentário:

Andarilho disse...

A solidão é um espelho que reflete o mais fundo da sua alma. Por isso, vc não a abandona. No máximo, esquece por um tempo, mas tal qual segundas-feiras, sempre voltam.