sábado, 18 de julho de 2009

Estilhaços

Chega por hoje. Já é tarde, já passou da hora de você ir pra casa. Não tem mais ninguém na rua, só os vagabundos e os amantes de plantão. E você não é nem um e nem outro, apesar da garrafa na sua mão te condenar um pouco. Whisky vagabundo, se a polícia passa agora na rua certeza você iria em cana. Mas não tem com que se preocupar, porque nesse fim de mundo no qual você se enfiou, polícia nenhuma vai querer te prender.

Caminhar na madrugada é sempre uma aventura solitária, não dá pra você compartilhar isso com os amigos. São pensamentos, ideias, loucuras que vão se aninhando na mente e não te deixam em paz, esteja você em sã consciência ou não. A ideia de invadir uma dessas casas e repousar, por exemplo, não pareceu tão ruim depois do último gole. Mas o melhor é não arriscar, e você continua andando, aos tropeços, na direção que você acredita ser a certa.


Como posso seguir em frente, se não sei para que lado estou virado?*

Seria essa a direção certa? É justamente aí, nessa rua escura, nessa cidade perdida, nesse lugar vazio, com essa garrafa vazia na mão, que você deve estar? Era isso que você imaginava para você quando criança? Ou você sonhava com o sucesso, o reconhecimento, muitos amigos, muitos amores, ou pelo menos UM amor? Sincero, verdadeiro, fiel, como todo amor de filme é? Você já não devia estar nadando na grana, sem preocupações com as contas do dia seguinte? Não era isso o que você esperava? Ser totalmente diferente de tudo o que o destino aparentemente iria lhe oferecer?

E então vem a fase da raiva, esqueça a melancolia, o fracasso se personificou em você, porque você deveria ser triste? O ódio sobe queimando cada veia, faz o coração bater mais forte, você precisa extravasar essa adrenalina e então, a força que te dominou por completo neste momento, te faz arremessar a garrafa vazia na árvore da esquina.

O barulho da garrafa batendo contra a árvore corta a noite como uma navalha, e os estilhaços do vidro caindo no asfalto parecem fazer um eco no silêncio da rua. É como se uma bomba tivesse caído em um lugar de paz, e no entanto nenhuma alma viva sai para ver o que está acontecendo. Ninguém se importa, afinal, com a sua raiva, com a sua alegria, com a sua tristeza, com o que caralhos você possa estar sentindo agora.

Então você senta no meio da rua e faz chover naquele pequeno pedaço de terra. Uma chuva de lágrimas que lamentam a indiferença que você mesmo se impôs. E que agora você pensa, como fazer para sair dela...

*a frase eu vi num livro que comecei a ler esses dias, e foi atribuída a John Lennon

5 comentários:

Sardinha Mestre disse...

A pior sensação do mundo é a de andar sozinho a noite, sem compania e com um vazio no coração. A bebida ajuda, ela preenche os espaços vazios da vida.. Ela ajuda tbm, ajuda muito.. É to bêbado, nem tem mais sentido o que eu escrevo.

Andarilho disse...

"Ninguém se importa, afinal, com a sua raiva, com a sua alegria, com a sua tristeza, com o que caralhos você possa estar sentindo agora."

Aí vc monta um blog, recebe comentários inteligentíssimos ou não, e fica mais feliz. Nããããoooo...

O importante é não ficar no meio da estrada, pq como ensinou o seu Miyagi, uma hora PÁ, o carro te pega.

Ana disse...

Nós nascemos e morremos sozinhos, essa bem é a verdade! Então, aproveite esses momentos de indiferença alheia e aprenda a aceitar a sua companhia. Aprenda a lidar com essa pessoa linda e feia, chata e muito legal, feliz e triste, preto e branco que todos nós somos intimamente.
Acredite...nos momentos mais incríveis e importantes da sua vida - os bons e os maus - ela será sua única companhia!!!!!
Beijo enorme

Dois cigarros e um café. disse...

Cara, esse cara, poderia ser eu. Porque eu me meti nesse poço de indiferença sem fim...

O alcool ajuda a não sair dele.

Beijundas ^^

Kuka disse...

Lembrei de uma frase da Vani agora...