quarta-feira, 1 de agosto de 2012

hoje a gente nem se fala, mas a festa continua

foi numa dessas minhas inúmeras viagens de ônibus para qualquer lugar daqui do sul/sudeste brasileiro (porque a despeito do que a realidade mostra hoje em dia, eu já fui uma pessoa que gostava de sair e conhecer lugares além do sofá). sempre gostei de viajar sozinha, era um tempo que eu tinha pra mim e pra pensar no que eu queria ou deveria fazer da minha vida. nessa viagem em específico, um retorno de umas férias qualquer, eu estava deveras triste de ter que voltar pra casa. não conseguia parar de chorar (gosto de fugir da realidade desde sempre. e ter que voltar pra ela não era/é fácil).

então ele sentou no banco ao lado do meu e me ofereceu uma coca-cola. valeu, não tomo refrigerante. nossa, que espécie de pessoa não toma refrigerante? a espécie de pessoa que prefere uma cerveja. ok, na parada eu pago uma pra você.

ri dessa bobagem, parei de chorar e comecei a prestar atenção ao que ele dizia. soube que ele era muito mais velho do que eu (para a época; comparando com hoje em dia seria a idade ideal), estava voltando para casa em Black River e trabalhava em uma plataforma de petróleo. foda-se o que você faz, trabalhar em uma plataforma de petróleo no meio do oceano é demais de bacana. ganhava bem, ou mentia bem para iludir menininhas em viagens de ônibus. me mostrou uma parte da coleção particular de todas as coisas bonitas e curiosas que ele encontrou no fundo do oceano. e me deu uma ostra linda de gigante.

até hoje (apesar dela ter quebrado em uma das inúmeras limpezas que eu fiz na vida) foi um dos presentes mais significativos que eu já ganhei na vida. porque veio de alguém que não ganharia nada com isso, que não esperava nada em troca além de um sorriso e um obrigada. ele se despediu de mim, e desceu na metade do caminho para encontrar sua família. por poucos dias, como ele me explicou, dali 15 dias estaria de volta à plataforma.

eu tenho muito medo dessas lembranças que eu tenho, às vezes parece não ter acontecido, às vezes parece que eu simplesmente tive um sonho e esse sonho foi tão real que eu transformei numa lembrança.

sei que não raro eu tenho saudade de pessoas que apenas passaram. mas significaram.

[não rolou cerveja na parada. eu ainda era menor de idade e ele era responsável. pena.]

3 comentários:

Andarilho disse...

Essas pessoas que passam rápido são boas pq não têm tempo de te decepcionar.

neutron disse...

o andarilho disse tudo.

essas pessoas só têm tempo de passar, não de decepcionar.

Carina Carvalho disse...

"às vezes parece não ter acontecido" – exatamente. talvez por fugirem do usual, nossa cabeça vacinadinha transforme esses acontecimentos em algo de matéria assim dissolúvel...



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