sábado, 12 de abril de 2014

pra alegria eu peço bis

Todos os dias eu sinto saudades de escrever. Desde que eu terminei a primeira (e pelo visto única) graduação, eu meio que perdi o jeito com as palavras. Eu acabei me afogando no trabalho, acabei tornando ele o centro da minha vida, para não ter que parar e pensar nas coisas que me incomodam na vida, que é, bem basicamente, a vida como um todo. E toda vez que eu escrevia, eu colocava algo de mim e me via forçada a pensar nas coisas que me incomodavam. Então eu resolvi: vou trabalhar. Vou me dedicar a isso. É o melhor que eu tenho a fazer no momento.

E é verdade. O trabalho, nesses últimos dois anos e meio, me ajudou a pensar menos. É tudo muito mecânico, mesmo que não seja tudo exatamente igual todos os dias, é só aquilo que eu preciso fazer, é só naquilo que eu preciso pensar, e pronto. Mas nos últimos tempos (depois da minha viagem de férias, a primeira em cerca de quatro anos), algo voltou a me incomodar. Quando eu não estou no trabalho, eu estou incomodada. A solidão me incomoda, o marasmo me incomoda, a rotina me incomoda. E todo esse incômodo faz os meus dedos coçarem para voltar a escrever. Para voltar a pensar.

Deixei meus pensamentos, minhas ideias e meus sonhos dormindo nesses dois anos e meio. Fiz de tudo para prendê-los numa redoma de vidro temperado, coloquei esse vidro dentro de uma caixa lacrada e joguei essa caixa no fundo do baú do meu cérebro. Sempre que lembrava que isso existia, eu pensava "preciso trabalhar, preciso pagar minhas contas, preciso ganhar dinheiro, preciso crescer na empresa". Eu usei essa desculpa incansavelmente, até mesmo para sair de férias todo ano e apenas dormir durante 20 ou 30 dias. Eu deixei de viver ainda em vida.

Busquei ajuda, claro. Isso não é vida, isso não é jeito de ser feliz. Todo mundo precisa de sonhos, de metas, de desejos na vida. Precisa de coragem pra meter as caras e se decepcionar de novo. Não vou escrever (pelo menos não por enquanto, não é essa a minha intenção no momento) sobre a ajuda que procurei e o que tive de suporte. Basta dizer que mudou muitas coisas em mim. E mudou os poucos relacionamentos que consegui manter nesse período de clausura social e espiritual.

Por fim, vou viver. Vou viver, vou sair, vou viajar, vou conhecer gente nova, vou arriscar, vou meter as caras e me decepcionar, e vou me orgulhar também. E saibam que só vou fazer isso tudo pois todos os dias eu sinto saudades de escrever. Vou matar essa saudade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Embora não seja bem um retorno aqui ao blog, fico feliz por você.

Abs,


Mouse

neutron disse...

eu lembro dos primeiros textos seus que eu li, lá em 2006. com muita coisa eu me identifiquei, e tantas outras me fizeram ter vontade de conhecer você. hoje, lendo esse texto, eu me identifiquei de novo de um jeito que nem sabia que era possível. acho que por isso a gente se dá tão bem: somos diferentes pra caralho e, ainda assim, rolam umas similaridades tão incríveis :) :*

j.artur disse...

é exatamente como me sinto nos últimos meses. mas, aos poucos, algumas coisas tem saído de forma interessante. escrever é minha vida. é escrevendo que eu me sinto verdadeiramente vivo. e é essa meta que eu quero pra minha vida. uma eterna busca por palavras que se completem e contem sobre aquilo que se passa aqui dentro. eu chamo felicidade! :)