terça-feira, 18 de setembro de 2012

daria um pedaço do meu medo pra saber se você tem coragem

nada do que eu tinha em mente há cinco minutos sobreviveu a uma simples levantada do sofá. então eu levanto, abro a geladeira, pego a garrafa d'água gelada, coloco um pouco no copo, fecho a garrafa, coloco na geladeira, pego a garrafa de água em cima da geladeira, misturo com a água gelada. bebo o copo de água mista, coloco o copo vazio na pia, volto pra sala, olho pra varanda e penso "preciso colocar algo para dar vida a essa varanda" e pronto. meus planos todos morreram nesse simples ato de beber água e pensar na varanda.

quais eram, afinal, esses planos? um corte de cabelo, um email a ser enviado, uma visita aos meus pais, alguma mudança nas rotinas profissionais, um banho gelado? nunca saberei. os planos morreram junto com a sede que eu fui matar na cozinha. eu não imaginava que eles eram tão interligados, os planos e a sede. eu não sabia que um não sobrevivia sem o outro. e eu sei que matei a sede, eu sei que ela exisita, mas e os planos? o que teria acontecido se eu seguisse com eles?

se nesse exato momento eu resolvesse que o plano principal era o banho gelado? os minutos em que eu estivesse esfregando meu corpo para me livrar das células mortas e do peso do dia me trariam um novo plano, e eu imediatamente esqueceria da sede. então eu pensei em trocar o box do banheiro, termino meu banho, vou ao quarto, procuro uma roupa e penso "preciso comprar novas calcinhas", pronto, mudamos de planos, afinal comprar calcinhas novas é muito mais fácil que trocar o box do banheiro.

meus planos na verdade não são planos. eles são intenções. eles são sonhos. são ideias que surgem no meio do nada e vão se esmaecendo e morrendo na medida em que novos planos, ops, desculpe, novas intenções vão surgindo. e eu as acumulo pela vida: as intenções, os planos, os sonhos, as ideias. tudo vai nascendo e morrendo com tanta velocidade, que justifica perfeitamente a minha falta de viver.

e eu sinto falta. de realizar algo, de finalizar uma ideia, de querer tanto, de desejar tanto alguma coisa qualquer, e lutar, ir atrás, persistir no plano. mas meus planos, minhas ideias, meus quereres são tão fraquinhos, tão leves e tão sem intenção que eles morrem. eles se liquidam num copo d'água ou num banho gelado, e dão lugar a outros planos que morrerão na última bolacha do pacote, que vai me lembrar que devo comprar mais biscoitos.

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

As vezes me pego mergulhado no medo, tentando de toda forma encontrar a coragem que me desafia.

jujudeblu disse...

Tenho pensado muito nisso, hermana!
Pq os planos morrem? Pq perdemos a vontade de tanta coisa?
A resposta eu não sei, mas acho que me aproximo dela toda vez que me vejo cercada de pessoas com quem me importo e que se importam umas com as outras.
Acho que a solidão produz tanta coisa ruim que quando percebemos, já estamos lá, sem vontade, sem desejo, sem objetivos.

Mas dá pra mudar... Enfim, amiga, ponha nos seus planos encontrar com essa senhorinha aqui! hehehe :)))

bjobjo!