domingo, 9 de setembro de 2012

o amor verdadeiro não tem vista para o mar

eu resolvi escrever para desabafar. escrever para tirar um peso que existia dentro do meu peito (porque o peso da barriga, nem toda a escrita do mundo vai ajudar). eu resolvi escrever porque eu tinha algo a dizer. escrever para canalizar as energias, fossem positivas ou negativas. eu resolvi escrever porque eram muitas as vozes dentro de mim, mandando, opinando, criticando, elogiando. não as vozes que geralmente levam à loucura, ou talvez justamente elas.

mas eu precisava sair do meio de toda aquela discussão e escrever. fazer com que alguém soubesse como eu me sentia, apesar de eu ter a sensação de nunca conseguir explicar. principalmente porque eu nunca consegui entender. nenhum dos sentimentos. nunca houve explicação para a alegria nem para a tristeza. nunca consegui compreender as raivas e os amores. não vou saber transmitir as dúvidas e os medos. e ainda que consiga: a quem realmente eles interessam?

eu comecei a escrever porque pra mim isso era importante. ninguém precisava realmente me aconselhar ou me dizer o que achava (apesar de que, depois de um tempo, o ego de escritor exige comentários sobre sua obra). mas eu precisava tirar de dentro de mim todo aquele remix de sentimentos e vê-los com meus próprios olhos. o engraçado é que você escreve sobre o amor, o ódio, a felicidade, o medo, a angústia e tudo isso deixa de doer muito. você olha o seu sentimento, você encara ele e percebe que ele não era tão enorme quanto você pensava.

enquanto os sentimentos viviam apenas dentro de mim, eles tinham essa intensidade, esse fogo, essa enormidade. depois que eles passaram a viver entre as palavras escritas do meu desvario, é como se eles fossem sumindo aos poucos. como se fossem diminuindo em tamanho, até se transformar em nada.

vivo, portanto, esses hiatos de escrita, pois os sentimentos mudam de lugar e demoram a germinar novamente. as vozes demoram a mandar, a odiar, a amar e a opinar. quando elas voltam, preciso fazê-las baixar o tom novamente. e daí, as palavras, essas estranhas amigas, são a minha arma na batalha pela minha sanidade.

às vezes sentir dói.

3 comentários:

Juliano Correa disse...

Eu diria que não é às vezes que sentir dói. É basicamente sempre. Mas isso é pegar apenas a última frase do seu texto e comentá-la, desculpa, o resto eu apenas concordo.

Márcia de Albuquerque Alves disse...

E como dói, controlar essa dor é um desafio e tanto! bjsss

neutron disse...

escrever liberta. eu quase tinha me esquecido disso. as coisas ficam mais claras, mais leves. a gente tira um pouco das coisas de dentro da gente.

escrever foi o que fez com que eu te conhecesse. e isso, por si só, já torna escrever uma coisa incrível.