quarta-feira, 31 de outubro de 2012

se é pra eu te ver então deixa eu dormir

daqui de dentro, eu olho pra escuridão que domina o lado de fora da janela e tudo parece muito mais escuro do que realmente está. não são nem nove horas da noite e parece que o mundo inteiro já mergulhou na madrugada e só resta a mim e aos meus pensamentos. só restou o medo da escuridão e o vazio. mas ainda existem as luzes lá fora, o vento ainda está balançando a árvore, mas do ângulo que vejo, a árvore é apenas uma sombra, a luz não passa de uma lembrança e a noite está cada vez mais escura.

a escuridão é muito maior vista daqui de dentro.

talvez se eu resolvesse sair e apreciar a noite. talvez se eu resolvesse aproveitar um pouco do vento, deixar que ele tocasse a minha pele, levantasse meus cabelos e entrasse debaixo do meu vestido. e se eu sentisse a escuridão mais de perto eu não tivesse tanto medo assim. não são nem nove horas e não é um bairro perigoso. se eu prestar atenção consigo ouvir as crianças ainda brincando na rua, os jovens se juntando na calçada e conversando as conversas que eu já não sei mais conversar. talvez se eu me aproximasse de um outro ângulo a árvore deixasse de ser uma sombra e passasse a ser, passasse a existir. talvez o silêncio que reina em mim me abandonasse por um tempo e eu pudesse ouvir o barulho do mundo e participar dele.

mas é noite. pode não ser nem nove horas, mas já é noite. e eu tenho tanto a fazer, o livro que não comecei, o telefonema que eu esqueci, o email que não respondi, a matéria que não estudei, a lição que não fiz, a louça que não lavei e então o sono que domina e o amanhã que já se anuncia.

e o amanhã, quando surgir, com seus raios de sol a denunciar que mais um dia se apronta para ser vivido, vai trazer junto uma saudade da escuridão. da sombra e da solidão que apertam e que doem, mas que amedrontam menos do que a vida que tenho vivido.

Um comentário:

Anônimo disse...

não pare de escrever por favor :(