O dançarino de uma perna só (2)
Um garoto e uma garota estão sentados na calçada em uma tarde ensolarada. O céu já está com aquela cor alaranjada, e logo eles terão de se separar, cada um pra sua casa, porque é hora de jantar, e pai e mãe ficam bravos quando a demora aumenta. A menina se levanta, ensaia um bailado, e estende a mão para o menino, convidando-o a se levantar e juntar-se a ela. Roteiro de filme, com certeza. Só não é um filme, porque o menino não levanta. Ele deixa a menina com a mão estendida e a lembra de uma coisa que é óbvia para quem o conhece: "eu não posso dançar."
Ele recolhe a muleta, faz um esforço já comum à sua única perna. Fica em pé, encara a menina nos olhos e diz novamente "eu não posso dançar". Ela é insistente, ainda está com a mão estendida. O garoto só vira as costas e vai para casa. A menina, deixada para trás, finalmente cede, deixa a mão cair ao lado do corpo, abaixa o olhar e vai embora também. Ele vai dançar, ela sabe que vai.
O menino que sonhava em ser dançarino já não sonha mais. Sua única alegria é ver a menina dançar, e ironicamente, essa é sua maior tristeza também. O professor de dança da menina quase riu quando o menino disse que também queria aprender a dançar. A sutileza passou longe quando ele apontou para o vazio e deixou solta no ar a frase que todo mundo pensava, mas não dizia para o garoto: "tá faltando alguma coisa aí pra você dançar, não?".
Sim, faltava. Faltava o mundo entender que não se destroi sonhos por causa de uma perna a mais ou a menos. Faltava as pessoas se desafiarem, assim como fez o menino, e desafiarem as velhas ideias, e se atreverem a pensar em um bailarino de uma perna só. Faltava ela criar coragem e ajudá-lo. Ela criou. Mas ele perdeu a coragem que tinha.
Agora ela passava todas as tardes com ele. Às vezes sentavam na rua e contavam quantas pernas passavam em frente à casa dele, às vezes ela dançava e ele observava, até ela estender a mão e a cena se repetir. Inevitavelmente, ele dizia a mesma coisa. "Eu não posso dançar". Vira de costas. Vai embora. Às vezes ela ficava sentada na calçada, e ele demonstrava como tinha facilidade para fazer as mesmas coisas que as pessoas de duas pernas tinham. Nessa hora ele se sentia encorajado a tentar novamente.
Mas vinha à mente o professor, e "tá faltando alguma coisa aí pra você dançar, não?". E então ele virava e ia embora.
Foi numa dessas demonstrações que a menina o desafiou. Ele estava pulando amarelinha com a menina, ela parou de pular e o desafiou. Ela só queria uma coisa, apenas uma coisa, uma pequena demonstração de que o menino de uma perna só poderia ser melhor do que a menina de duas pernas.
"Dança comigo. Só uma vez."
Ele parou de pular e olhou nos olhos da menina. Os olhos dela dançavam em torno dos seus. A tarde não era ensolarada, mas era um cinza acolhedor. Uma rua silenciosa, raridade para uma tarde de julho. Ela repetiu as palavras mágicas.
"Dança comigo. Só uma vez."
E estendeu a mão para o menino.
Dessa vez, a mão dela não ficou sozinha no ar.
[continua...]
Ele recolhe a muleta, faz um esforço já comum à sua única perna. Fica em pé, encara a menina nos olhos e diz novamente "eu não posso dançar". Ela é insistente, ainda está com a mão estendida. O garoto só vira as costas e vai para casa. A menina, deixada para trás, finalmente cede, deixa a mão cair ao lado do corpo, abaixa o olhar e vai embora também. Ele vai dançar, ela sabe que vai.
O menino que sonhava em ser dançarino já não sonha mais. Sua única alegria é ver a menina dançar, e ironicamente, essa é sua maior tristeza também. O professor de dança da menina quase riu quando o menino disse que também queria aprender a dançar. A sutileza passou longe quando ele apontou para o vazio e deixou solta no ar a frase que todo mundo pensava, mas não dizia para o garoto: "tá faltando alguma coisa aí pra você dançar, não?".
Sim, faltava. Faltava o mundo entender que não se destroi sonhos por causa de uma perna a mais ou a menos. Faltava as pessoas se desafiarem, assim como fez o menino, e desafiarem as velhas ideias, e se atreverem a pensar em um bailarino de uma perna só. Faltava ela criar coragem e ajudá-lo. Ela criou. Mas ele perdeu a coragem que tinha.
Agora ela passava todas as tardes com ele. Às vezes sentavam na rua e contavam quantas pernas passavam em frente à casa dele, às vezes ela dançava e ele observava, até ela estender a mão e a cena se repetir. Inevitavelmente, ele dizia a mesma coisa. "Eu não posso dançar". Vira de costas. Vai embora. Às vezes ela ficava sentada na calçada, e ele demonstrava como tinha facilidade para fazer as mesmas coisas que as pessoas de duas pernas tinham. Nessa hora ele se sentia encorajado a tentar novamente.
Mas vinha à mente o professor, e "tá faltando alguma coisa aí pra você dançar, não?". E então ele virava e ia embora.
Foi numa dessas demonstrações que a menina o desafiou. Ele estava pulando amarelinha com a menina, ela parou de pular e o desafiou. Ela só queria uma coisa, apenas uma coisa, uma pequena demonstração de que o menino de uma perna só poderia ser melhor do que a menina de duas pernas.
"Dança comigo. Só uma vez."
Ele parou de pular e olhou nos olhos da menina. Os olhos dela dançavam em torno dos seus. A tarde não era ensolarada, mas era um cinza acolhedor. Uma rua silenciosa, raridade para uma tarde de julho. Ela repetiu as palavras mágicas.
"Dança comigo. Só uma vez."
E estendeu a mão para o menino.
Dessa vez, a mão dela não ficou sozinha no ar.
[continua...]
9 comentários:
Ele pode até dançar, mas não vai ser um sucesso.
Tem hora que a gente precisa é de uma menininha dançarina que não desista da gente, né?
O sucesso não está ligado diretamente à qualidade, Andarilho...não é tão matemático assim!
O sucesso é uma questão de estrela! Para ser aplaudido de pé, nem sempre é preciso ter talento! É preciso apenas ter algo especial que quase ninguém tem....Superação, coragem e determinação fazem tanta falta nesse mundo!!!!
Tô louca pra ler a continuação...e, algo me diz que o final não será clichê!!!! Veremos...Brilahnte!
beijos
agora melhorou.. gostei da frase: Faltava o mundo entender que não se destroi sonhos por causa de uma perna a mais ou a menos.
Essa foi foda.. deu até um arrepio.
Andarilho: nem é isso que ele está buscando. Sonho não quer dizer exatamente que vc busque o sucesso. Bom, não no caso do menino.
Clau: POIS É. Olha só que coisa.
Ana: olha, não sei exatamente o que seria um final clichê pra você. Mas digamos que pode aguardar, pq ainda não tenho o final dessa história,AHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAA!
Gerundino: não se destroi sonhos por motivo nenhum, sabe. Deveria ser proibido na Constituição que as pessoas destruissem os sonhos alheios!
Desculpa dar uma de House, mas sucesso está sim ligado a qualidade. Todo mundo quer ser reconhecido, e só vai ser reconhecido se vc for bom.
E o sonho do garoto é o que? Dançar por dançar? Helloooo, isso fica mto bonito na ficção, mas a vida real é bem menos doce. Fora que se ele quer dançar por dançar, nem precisa de tanto drama. Dança por hobby e acabou.
Na boa, o sonho do moleque é pegar a menina dançarina, o resto é balela, huahauhua
Na boa, o sonho do moleque é pegar a menina dançarina, o resto é balela, huahauhua
uauhauhahuhua.. Pqp o Andarilho estraga qualquer comentario e post, o cara é foda, rs. Mas o pior é q concordo.... eu só queria pegar a mina tbm.
Sou eu que estrago o que? Vai me dizer que o post não ficou mais divertido, a la House?
Caralho, Andarilho acabando com os sonhos do moleque, tipos: você nunca será nada seu perneta/doctorhouse. kkkkkkkkkkk
Até perdi o que iria escrever...
Aquió, a Caixa vai ficar de greve até quando???? kkkk.
Beijundas, querida.
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